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Vinte anos após discursar pela primeira vez na Organização das Nações Unidas (ONU), em seu oitavo discurso na Assembleia Geral, nesta terça-feira (19/9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve pedir reformas na própria instituição, cobrar mais protagonismo para os países em desenvolvimento no debate global e ressaltar a necessidade do financiamento de uma transição energética sustentável. Neste primeiro discurso do terceiro mandato, Lula deve fazer um contraponto às passagens do antecessor, Jair Bolsonaro (PL) pela ONU.
Como é tradição no principal evento anual da diplomacia mundial, o Brasil abre, na manhã desta terça, às 10h de Brasília, a sessão de debates entre chefes de Estado da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Essa será a oitava vez que Lula fala na abertura da Assembleia Geral da ONU como presidente do Brasil. Em suas gestões anteriores, o petista só não viajou para Nova York em 2010, quando preferiu se dedicar à campanha da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) a sua sucessão.
Focado em restabelecer relações diplomáticas enfraquecidas nos últimos quatro anos, Lula busca ser um dos embaixadores do chamado Sul Global em discussões com os países desenvolvidos em questões econômicas, ambientais e geopolíticas. Contudo, não deve adotar um tom de enfrentamento contra as potências.
O petista vem tentando se distanciar da postura de Bolsonaro, que usou a tribuna da ONU durante seu mandato para fazer discursos duros, com teor ideológico voltado para brasileiros – e não aos chefes de Estado presentes –, e recheados de polêmicas.
Bolsonaro ficou conhecido, nas oportunidades em que falou na ONU, em direcionar seu discurso ao “cercadinho” (como ficou conhecido o espaço ocupado por seus apoiadores no Palácio da Alvorada, em Brasília). O interesse dele era maior nos assuntos domésticos, em defesa de suas ideologias e até com interesses eleitorais.
Nos temas gerais, porém, o atual e o ex-presidente não se distanciam muito. Bolsonaro também falou sobre a Amazônia desde seu primeiro discurso na ONU, em setembro de 2019, e, como Lula, defendeu que a gestão da área florestal precisava levar em conta quem vive lá.
No entanto, diferente de Lula, Bolsonaro negava a gravidade da degradação da floresta e discursava contra a intromissão de outros países no debate, chegando a atacar a França e seu presidente, Emmanuel Macron.
O ex-presidente sempre procurava fazer uma defesa de seu governo e de ações específicas. Já o petista, por outro lado, insiste em discutir globalmente a preservação da Amazônia e de outras florestas tropicais. E ele faz isso também no sentido de cobrar financiamento prometido pelos países ricos.
O discurso ambiental de Lula “para fora”, no entanto, tem sido considerado contraditório com ações internas. O petista, por exemplo, não se posicionou contrariamente à exploração de petróleo na Foz do Amazonas pela Petrobras.
O discurso que Lula fará nesta terça foi mantido em sigilo por sua equipe, mas é improvável que o atual presidente cite seu antecessor pelo nome. Lula deverá seguir uma linha coerente com suas falas na área da diplomacia nos últimos meses e alegar que sua vitória eleitoral garantiu a preservação da democracia no Brasil.
Em sua primeira oportunidade na mesma tribuna, Bolsonaro também adotou a retórica de salvador, mas do que ele considerava como o mal. “Um novo Brasil que ressurge depois de estar à beira do socialismo”, disse, em uma das suas primeiras frases na abertura da Assembleia Geral.
No ano passado, quando Bolsonaro viajou para Nova York para sua quarta participação no evento anual da ONU, o tom crítico em relação à política internacional foi mantido e falas que se conectavam com a campanha eleitoral contra Lula permearam o discurso.
O ex-presidente chegou a falar do preço baixo da gasolina no Brasil graças à ação de seu governo para cortar impostos estaduais e federais. A ida de “milhões de brasileiros às ruas, convocados pelo seu presidente”, para eventos cívicos e políticos em 7 de Setembro também foi citada por Bolsonaro.
Como Bolsonaro, Lula deverá buscar um difícil equilíbrio no discurso ao abordar a guerra imposta pela Rússia ao território ucraniano. O ex e o atual presidente mantêm discursos de defesa da paz, mas ambos relutaram em condenar frontalmente o presidente da Rússia, Vladmir Putin, ou a aderir aos esforços liderados pelos Estados Unidos para impor sanções econômicas ao país agressor.
Bolsonaro, que visitou Putin logo antes do início da guerra, lembrava da dependência que o Brasil tem de fertilizantes importados do país governado por Putin. Já Lula depende da Rússia e da China (que também tem proximidade com os russos) em sua ambição para balancear a governança global.