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São Paulo — O chefe da quadrilha Bando do Magrelo, Anderson Ricardo de Menezes, o Magrelo, afirmava, antes de ser preso em maio de 2023, se considerar o “novo Marcola“, referindo-se ao líder máximo do Primeiro Comanda da Capital (PCC), de quem é inimigo.
Ele é o cabeça de uma organização criminosa que movimenta milhões em Rio Claro, cidade do interior de São Paulo, na qual usava violência para se impor à maior facção do Brasil.
A ida de Magrelo para o sistema carcerário, no entanto, gerou um racha no bando e insuflou a ganância de antigos aliados. Em especial, de Murilo Batista Prado, de 25 anos, segundo relatório policial obtido pelo Metrópoles.
O jovem, que se apresenta como empresário, teria atuado com Magrelo para transportar cargas de drogas do Paraguai até o interior paulista. Os dois, de acordo com investigação policial, se desentenderam e desfizeram a parceria.
Com Magrelo atrás das grades, Murilo se dispôs a tomar o lugar do chefão no controle do tráfico de drogas da cidade, o que culminou em uma onda de assassinatos na região. A briga entre membros do mesmo grupo criminoso deixou cinco mortes “oficiais” de junho até os dias atuais.
Em 2 de junho, Maicon Donizete do Nascimento, o Zóio Verde, de 36 anos, e Valdeir Silva dos Santos, o Val, 39, foram mortos no bairro Parque Universitário.
Ambos eram sócios de um depósito de bebidas. No dia da morte deles, dois pistoleiros desembarcaram de um carro verde e atiraram. A dupla assassina fugiu.
Registros da Polícia Civil indicam que Zóio Verde foi alvo de 18 tiros. No carro dele foram encontrados, na ocasião, R$ 23 mil. Já Val foi alvo de sete disparos.
Uma denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), obtida pela reportagem, chegou a afirmar que os comparsas dos mortos “se vingariam no próximo fim de semana”.
Val e Zóio Verde foram executados em um domingo. Como denunciado pelo Gaeco, seis dias depois, em um sábado, José Orlando Rodrigues, o Zóio, foi assassinado. Ele tinha saído do sistema carcerário no início do ano. Na ocasião, uma pedestre, sem nenhum envolvimento com o crime, foi ferida por uma bala perdida.
Uma denúncia feita anonimamente ajudou a polícia a identificar os criminosos envolvidos na matança.
Conforme relatado pela testemunha sigilosa, Zóio Verde e Val teriam sido mortos por Leandro Agostinho Fernandes, o Filho do Turco, de 32 anos; Adalbert Aldivino Batista Prado, o Divino, 56, pai de Murilo; e por José Orlando Rodrigues, o Zóio — morto seis dias após suposto envolvimento nos homicídios. Murilo é quem teria guiado o carro que levou os pistoleiros para o local do crime.
O quarteto também estaria envolvido, de acordo com o MPSP, nos assassinatos de um criminoso identificado somente como Gago e também no desaparecimento de Michael Diego Moraes em 29 de abril, após receber um telefonema. Depois da ligação, testemunhada pela mãe, o rapaz teria saído de casa e nunca mais foi visto.
Michael teria sido enterrado, clandestinamente, em um sítio pertencente ao Filho do Turco, onde também eram guardadas armas do grupo “dissidente” liderado por Murilo.
A mãe de Michael afirmou ao Metrópoles, nessa terça-feira (22/10), que o corpo do filho teria sido encontrado em agosto. Desde então, ela aguarda pela liberação, que será feita, segundo ela, somente após a conclusão de exames de DNA.
Registros do TJSP mostram que o Filho do Turco segue em liberdade, da mesma forma que Murilo e Divino. As defesas dos três não foram localizadas. O espaço segue aberto.
Quando estava em liberdade, na disputa pela hegemonia criminosa em Rio Claro, o Bando do Magrelo teria se envolvido em ao menos 30 homicídios de integrantes do PCC.
Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo mostram que, em 2020, foram assassinadas 21 pessoas em Rio Claro. O número praticamente dobrou no ano seguinte por conta da atuação da quadrilha liderada por Magrelo.
Em outra denúncia, também obtida pelo Metrópoles, o Gaeco afirmou que as execuções promovidas por Magrelo e o bando dele, em via pública, em plena luz do dia, com disparos de fuzil, “colocam tristes holofotes na cidade.” Além dos homicídios, a quadrilha é alvo de inquéritos que apuram o crime de organização criminosa com associação para o tráfico de drogas.
Magrelo foi preso em 23 de maio do ano passado, usando documento falso na cidade de Borborema, a cerca de 210 km de distância de Rio Claro e a quase 380 km da capital paulista.
Seis dias antes, ele fugiu da polícia por um buraco no muro da mansão em que morava, em Ipeúna, no interior paulista, durante uma operação conjunta do Gaeco e PM.
Ele segue atrás das grades, enquanto Murilo, antigo aliado, tenta roubar o lugar dele como chefão do crime de Rio Claro.